"Certa manhã embrenhou-se profundamente nos tortuosos caminhos estreitos existentes entre os penhascos, os quais subiam e desciam, aparentemente sem sentido definido, mas quando observados do alto da montanha revelavam direções bem determinadas. Frequentemente, estes lhe haviam servido como imagem das intrincadas vidas humanas.
Também nesse dia, ele foi galgando o estreito caminho, absorto em pensamento semelhante, até alcançar uma grande rocha que lhe barrava o caminho. Acomodou-se então ali e ficou observando as cercanias. Como se esforçavam as diversas plantinhas para lançar raízes nos interstícios inóspitos! A semente, como conseguira chegar lá? Fora trazida no bico de alguma ave? Improvável! Ali isolavam-se apenas aves de rapina, que não ligam para sementinhas.
Bons espíritos deviam ser os obreiros. Conhecia a existência dos espíritos benignos, como sabia dos demônios. Estes últimos originavam-se nos cérebros dos homens. E quem criara os bons espíritos? A resposta logo assomou nele: Tens ainda dúvidas, após empregares o termo criar?
— Sublime, foste Tu o criador destes seres bondosos, que são o auxílio de tudo aquilo que é vivo! exclamou contente. Como não o soube logo, pois se tudo de bom e de belo tem sua origem em Ti!
Como se lhe fosse afastada uma venda diante dos olhos, descortinou ele, de repente, os inúmeros seres que povoam a terra e os ares. Dialogou com eles e, assim, muito aprendeu sobre as montanhas e os vales, o vento e os cursos d’água. Inclusive à noite, ele permanecia ao relento, procurando aprender o significado das estrelas. Somente ao raiar do dia, voltava a seu aposento, onde o aguardava o zeloso Wai, para servir-lhe um chá quente."
Lao Tse, Coleção o Mundo do Graal