Palavras e silêncios
Daniela Schmitz Wortmeyer
Na reunião de trabalho, fala-se continuamente. Para cada argumento, um contra-argumento. Por vezes, falas se sobrepõem, volumes se alteram, há disputa pela palavra. Na arena verbal, muito se comunica de forma não verbal: olhares, expressões faciais, entonações, gestos, silêncios. Há significados implícitos no discurso, com nuances sutis. A palavra é arma poderosa, que revela, comunica, direciona, mas também oculta, dissimula e pode servir para a manipulação do outro. Depois de horas falando, talvez fique a sensação de que o essencial ficou sem ser dito.
No texto Escutatória, o escritor Rubem Alves analisa a experiência de um amigo que conviveu com um grupo de nativos norte-americanos. Antes de iniciar uma reunião, os indígenas permaneciam por longo tempo em silêncio, buscando se conectar com o pensamento essencial sobre o tema a ser tratado. Então, alguém fala, de maneira sucinta, seus pensamentos essenciais, e todos ouvem. Segue-se novo silêncio, para que o sentido da fala possa ser assimilado. Pois os pensamentos de cada um são estranhos para os outros, exigindo tempo, atenção e ponderação para serem compreendidos. E assim prossegue.
Em nosso contexto, é raro haver silêncio interno e externo. Internamente, cada um está com a mente repleta de palavras: um fluxo incessante de pensamentos, que dificultam perceber o significado essencial. Ao mesmo tempo, não abrimos espaço para ouvir: mal escutamos o que vem de fora, especialmente se não confirmar nossas ideias, logo pensando em como defender a própria visão. Assim, a palavra frequentemente confunde e separa, em vez de servir de ponte para a autêntica comunicação.
O exemplo dos nativos americanos possui uma indicação preciosa para sair desse ciclo: antes da palavra, é preciso cultivar o silêncio. Para escutar a si próprio, a fim de que a fala seja clara e expresse o que realmente vibra em nosso interior. Para compreender o outro, buscando alcançar, para além das palavras, seus significados mais profundos. Dessa forma, abre-se caminho para um verdadeiro encontro e, quiçá, para a união em um projeto comum.
“Atentai à vossa palavra ! Que vossa fala seja simples e verdadeira ! Contém em si, pela sagrada vontade de Deus, a capacidade de formar, construindo ou também destruindo, segundo a espécie das palavras e de quem fala.”
Abdruschin, Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal
“Existem assim muitas maneiras de vos advirem guias, os quais só poderão servir para o vosso bem, tão logo atenteis em sua influência silenciosa.”
Abdruschin, Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal
“Acautela-te de pensamentos confusos e de toda a superficialidade no pensar.”