"O que se teria passado naquela alma, nesse instante, ninguém sabe. O certo é que o ladrão se voltou imediatamente para o príncipe e perguntou:
— Queres que eu te leve para um abrigo qualquer, onde possas receber alimento?
No modo de olhar do ferido, o homem adivinhou a resposta e, erguendo em seus possantes braços o corpo quase inanimado do príncipe, carregou-o para fora da mata.
Quando Siddharta voltou a si, viu-se deitado sobre uma pele, dentro de uma caverna pouco espaçosa. Junto dele havia uma vasilha grande com chá e vários alimentos, espalhados sobre uma pedra, a seu alcance. O príncipe, porém, sentia-se tão fraco, que sequer podia alcançar o que comer e o que beber.
Novas e incríveis provações. O tal homem devia tê-lo despojado de suas vestes, pois tiritava de frio. Passou os olhos pelo corpo e viu que estava, efetivamente, coberto apenas de míseros, sórdidos andrajos.
'Ó invisíveis, acaso me salvastes da morte imediata só com o fito de me fazer sucumbir lentamente à míngua?' clamava o príncipe em tom lamentoso, não mais com aquela arrogância de antes. 'Ajudai-me, sim, ajudai-me ainda, vós a quem não conheço nem consigo ver, mas em quem acredito, porque agora sei que vós existis!'"
Buddha,Coleção o Mundo do Graal