Muito queremos crescer. Alongar o corpo e a mente, expandindo conhecimentos e habilidades. Ir adiante, quem sabe esticar o horizonte usando três fios de teia de aranha, como diria Manoel de Barros.
Olhamos para fora e pensamos no que ainda precisa ser conquistado.
— O que você quer ser quando crescer? – Perguntamos sem perceber que não é tão simples e óbvio nos sentirmos efetivamente crescidos e que sempre somos uma inteireza, inclusive na infância.
Plantas também buscam movimentos de expandir, esticar, alcançar. E seus ciclos incluem momentos de se retrair, acalentar as energias de dentro, economizar forças para o novo broto.
Alongar é bom, melhora a amplitude dos movimentos e a postura, reduz a dor muscular. Mas até o fio da teia tem seus limites de expansão. Às vezes, o corpo não consegue. E por que precisa conseguir?
Queremos tanto expandir, conquistar algo novo que, por vezes, esquecemos do território que já somos: das riquezas e potencialidades naturais, dos pequenos e grandes feitos, daquilo que está ao alcance, da desnecessidade de sermos movidos pela ânsia do conquistador –como se a relevância estivesse sempre em colonizar novas paragens.
Os limites são bons, as fronteiras geram segurança e definem. Dizem que ser seguro não é acreditar que tudo pode, mas entender sobre os próprios limites. E é nas fronteiras dos limites que fazemos os melhores escambos. Doamos e colhemos do outro. A troca se faz jardim de expansão e só acontece porque existe toda uma terra já fertilizada, ocupada daquilo que somos e daquilo que o outro é.
Ser o que cabe dentro dos fios do horizonte pessoal, esticando na medida da própria natureza, prezando o que já faz parte do ser, despindo-se da mentalidade do colonizador é um jeito de praticar o apreço.
O que se pode fazer com três fios de teia de aranha? Em vez de esticar o horizonte, o beija-flor despratica as normas e usa os fios para abraçar e firmar o próprio ninho.
“Já existiu algum inventor que descobrisse algo, sem antes estudar minuciosamente as leis da natureza, adaptando-se a elas cuidadosamente?
Nenhum processo técnico, por exemplo, pode desenvolver-se sem que o ser humano se oriente exatamente pelas leis inamovíveis da natureza.”
Roselis von Sass, Fios do destino determinam a vida humana.
Em nosso contexto, é raro haver silêncio interno e externo. Internamente, cada um está com a mente repleta de palavras: um fluxo incessante de pensamentos, que dificultam perceber o significado essencial. Ao mesmo tempo, não abrimos espaço para ouvir: mal escutamos o que vem de fora, especialmente se não confirmarmos nossas ideias, logo pensando em como defender a própria visão. Assim, a palavra frequentemente confunde e separa, em vez de servir de ponte para uma comunicação autêntica.
"Tentar subir às alturas sem fazer pontes firmes é como ver um filme avançando sempre as partes menos importantes no anseio de se chegar ao fim. Quando se vê, no descuido do afã, perdeu-se sem querer a própria história, com suas pequenas e entretecidas ligaduras.
Uma teia de costura falha, só no alinhavo, com pontos longos e distantes que, ao menor sacolejo, se rompe inutilmente."
Caroline Derschner