Meu amigo me disse que é desse modo que os seres humanos enxergam os fatos de sua vida, o seu destino: como uma confusão sem sentido, porque não podem perceber o que está sendo formado em um plano superior.
Fiquei pensando como os fios de nosso destino formam quadros tantas vezes difíceis de decifrar. É comum arquitetarmos projetos em nossas mentes, de coisas que gostaríamos de realizar e conquistar, acreditando que dessa maneira alcançaremos a idealizada felicidade. Formamos um quadro com nosso raciocínio, um modelo de realização - que é influenciado não apenas pelos nossos desejos pessoais, mas também pela cultura em que vivemos, pelos valores familiares, sociais, midiáticos... E geralmente não considera o movimento da tessitura do destino.
Chega a ser curioso como, em certos momentos, parecemos estar no comando do veículo que conduz nossa vida; porém, em outros, é como se a direção nos fosse tomada, e ficássemos completamente impedidos de desviar o rumo dos acontecimentos. Relutamos, esperneamos, tentamos influenciar a configuração do quadro de muitas formas, com mínimo sucesso. Leva tempo para aprender que, em vez de desperdiçar energia nessa batalha inglória, mais sábio é aceitar a situação e procurar responder da melhor maneira possível ao chamado da vida. Afinal, somos pequenos demais para enxergar o quadro que está sendo formado no ateliê do destino...
Velhas histórias, assim como enredos contemporâneos, narram trajetórias de desenvolvimento de heróis e heroínas, sempre marcadas por diversos tipos de obstáculos e ameaças ao alcance da meta pretendida. No decorrer do percurso, os protagonistas são testados em suas capacidades e descobrem talentos insuspeitados, lapidando virtudes e colhendo aprendizados. Ao final da saga, houve um desabrochar da personagem, que brilha em força e sabedoria.
De fato, toda essa jornada ficaria empobrecida diante de um percurso sempre previsível e cômodo, em que todos os desejos iniciais fossem prontamente atendidos. É nas lutas cotidianas que se forjam heróis e heroínas, atravessando precipícios, desvendando enigmas e enfrentando os monstros do dia a dia - muito embora esse processo possa exigir um amadurecimento interior bastante custoso e desafiador. Após uma etapa de aventuras, o principal tesouro conquistado talvez seja percebido no olhar de quem ampliou sua bagagem de experiências, percorrendo lugares nunca antes sonhados e desenvolvendo-se como ser humano.
“Enquanto o povo, no Egito, estava esperando o construtor da pirâmide, este estava esperando, muito distante, à beira de um rio, no sul da Arábia. Ira e tristeza transpareciam do seu belo rosto jovem. Suas mãos, fechadas em forma de punhos, estavam em seu colo. Ele, Pyramon, o filho do rei de Kataban, tinha sido expulso. Com desespero, já há algum tempo olhava a sua frente, comprimindo a seguir seus punhos com firmeza contra os olhos, enquanto seu corpo tremia, literalmente, em virtude da dor muda.”
Roselis von Sass, Sabá. A Grande Pirâmide Revela Seu Segredo
“- Durante a sua viagem para cá, já fostes preparados para o que vos espera. Todos admitiam que só poderia ser assim. Um único sábio perguntou quem seria o construtor dessa obra singular. A esse respeito Sargon também não tinha uma resposta concreta e disse:
- Sem tempo previsto, ele estará presente! Aliás, será um homem jovem ainda, de sangue real, que, marcado pelo sofrimento, aprofundado para a sua grande missão, a qual ele mesmo, hoje, desconhece.”
Roselis von Sass, A Desconhecida Babilônia