"Retomando a caminhada, tornou-se dolorosamente consciente de que também ele não passava de um solitário peregrino na escuridão desta Terra…
Embora fosse amargo tal reconhecimento, sentiu-se refrescado e revigorado. Na metade do caminho lembrou-se de Abu Ahmed. Tinha de ir até ele ainda. Era impossível viajar sem despedir-se desse bondoso homem velho.
Mal Jean chegara à casa do sábio, quando a porta já se abria e o fiel Saleh fazia um gesto convidativo com a mão. Abu Ahmed estava de pé no meio do quarto, respirando como que aliviado, quando Jean entrou.
Jean ficou parado, estupefato. Uma capa preta cobria quase totalmente a vestimenta branca do velho.
O que significava tal vestimenta solene a essa hora matutina? Um turbante branco?…
Abu Ahmed sorriu quase imperceptivelmente ao ver a surpresa de Jean; a seguir, fazendo um gesto suave com a mão, disse: — Jean, meu filho, vou-me embora… Deves viver sempre de tal modo, que as bênçãos do Todo-Poderoso, do Misericordioso, possam atingir-te!…
Jean, comovido, ajoelhara-se, apertando a testa de encontro à mão de seu pai espiritual.
De repente soube o que as palavras 'vou-me embora' significavam. Abu Ahmed, porém, não lhe deixou tempo para que se entregasse a sentimentos de dor ou tristeza. Colocou a mão sobre a cabeça do ajoelhado, abençoando-o em nome de Deus.
Dirigiu-se depois ao leito, conduzido por Saleh, e deitou-se. Jean sentou-se num banquinho ao lado da cama, aguardando."
África e seus Mistérios, de Roselis von Sass