"Os três cavaleiros estavam contentes por terem escapado do perigo, e indagavam sobre o caminho para Mênfis. Cordialmente receberam informação. Ainda antes do anoitecer poderiam chegar lá, se mantivessem o rumo. Deveriam seguir para o nordeste, primeiramente ainda na areia, mas logo depois chegariam a uma trilha pedregosa, a qual os conduziria, após cerca de uma hora, à estrada larga que leva à capital.
— Lá, desde ontem há inquietação, disse um dos mercadores. O filho mais velho do faraó, o príncipe Amenemhet, empreendeu há três semanas uma cavalgada, com alguns acompanhantes, e não mais voltou. Teme-se que lhe possa ter acontecido alguma desgraça. O faraó envia emissários para toda parte, e o povo participa vivamente das preocupações do soberano, pois consta que o príncipe goza de simpatia geral.
Amenemhet, a quem se tornou desagradável a alusão a sua pessoa, quis interromper a conversa, mas Taré adiantou-se a ele. Alegrava-se pelo fato de o príncipe poder escutar um parecer insuspeito, e por isso queria aproveitar a oportunidade da melhor maneira possível.
— Conheceis o príncipe? Por que ele é benquisto? perguntou ele, alentado por sincero interesse.
— Não, eu não o conheço. Durante as minhas curtas permanências na capital, ainda não tive ocasião de ver um membro da distinta família do nosso faraó, replicou o loquaz comerciante. Escutam-se, porém, diversos comentários. O príncipe seria não só belo e viril, como também muito inteligente. O que, no entanto, mais me agrada, é que o povo o elogia devido à sua singeleza e sua solicitude para com os outros. Esse, um dia, será um bom faraó, melhor do que o atual, que só pensa em si e nos seus.
O príncipe Amenemhet levantou-se para olhar os cavalos. Não deveria tolerar que na sua presença se falasse de maneira irreverente sobre o soberano e, contudo, não queria se dar a conhecer.
As pessoas que criticavam o seu pai, devido ao seu egoísmo, tinham toda a razão. Amenemhet II defendia o princípio de que o povo estaria sobre a Terra por causa do faraó. Para o bem do país era feito somente aquilo que ao mesmo tempo servisse para proveito do soberano. O príncipe já se entristecera muitas vezes por esse motivo.
Também era isso que sempre o levava a empreender as longas cavalgadas que tanto desagradavam ao seu pai. Ele não queria passar os seus dias na corte do faraó, na ociosidade e na boa-vida. Agora estava regressando novamente e poderia contar com uma má recepção, se bem que não fora culpa dele a cavalgada se prolongar tanto."
Aspectos do Antigo Egito, Coleção o Mundo do Graal