A médica perdeu o avião porque uma greve aeroviária impediu que seu voo
de conexão chegasse a tempo. Aguardando na comprida fila da companhia aérea,
ela xingava tudo e todos em alto tom. Xingava a companhia aérea e seus
tripulantes, xingava os atendentes do balcão, xingava os habitantes do país em
que estava. O namorado dela, rindo das adversidades, dizia que não era bem
assim, que ela não deveria generalizar. A espera na fila levaria mais de duas
horas.
Li numa revista a história de uma moça que também perdeu o avião. No
balcão da companhia aérea só havia uma atendente. A moça conversou com a
atendente e começou a ajudá-la a distribuir os vouchers e a dar informações
para os outros passageiros. Alguns perguntavam porque ela fazia aquilo e ela
dizia que teria que esperar mesmo e que poderia, então, ajudar. Perto do momento
do novo embarque, após ajudar com a fila de passageiros e amargar uma longa
espera até o próximo voo, a moça recebeu de uma comissária um novo cartão de
embarque. Ela achou que havia perdido o seu cartão e agradeceu. Quando olhou
com mais atenção, notou que em seu novo cartão de embarque o assento era de
classe executiva.
Como cada um lida com situações extremas ou com um acontecimento que não
estava na agenda? Alguns buscam com bom humor uma forma de abrir as portas para
uma comunicação que leve à solução do problema. Outros, nem tanto. Há, contudo,
formas diversas de reclamar e fazer com que direitos sejam cumpridos.
Dizem que a forma de cada um se expressar está ligada ao seu
temperamento, que sua forma de agir “está no sangue”. Cada um tem o seu
temperamento, ligado a variantes como a idade ou mesmo o local em que vive.
Também os povos trazem determinadas características comuns de temperamento.
Há temperamentos coléricos. Alguns dominados, outros exacerbados. Mas
será que tem jeito de temperar o temperamento?
Em uma época em que há tanto disponível nas prateleiras, pode parecer desnecessário criar algo com as mãos. Esse labor, no entanto, vai ao encontro de uma necessidade mais profunda: a reconexão com processos que se ligam à essência da própria vida. Mais do que o resultado material das atividades, o que importa é a transformação vivenciada no interior do próprio ser humano.
“Os pais terrenos oferecem proteção e ajuda para a época que o espírito necessita, a fim de conduzir de maneira plena e autorresponsável seu novo corpo terreno; depois, porém...”