Daniela Schmitz Wortmeyer
Entre diversas peças artesanais em couro, tingidas em cores variadas e com belos desenhos em baixo-relevo, a cliente escolhera um pequeno e delicado estojo redondo. A jovem artesã, que interrompera seu trabalho, revelou, emocionada: “Quem fez esta peça foi uma mulher muito sábia. Ela foi a mestra de todos nós”.
Após presenciar essa cena, continuei minha peregrinação pela cidade, cada vez mais impressionada com os trabalhos feitos com inúmeras técnicas e materiais: tecelagem, bordados, carpintaria, cerâmica, vidro, vitrais, joalheria… Não era apenas a beleza exterior das peças que me impactava: havia uma sensibilidade e uma seriedade na execução daqueles ofícios, que às vezes me parecia estar diante de algo sagrado. Uma conexão e respeito por saberes ancestrais, dos quais aqueles artistas eram, de algum modo, guardiães.
Depois, visitando um museu, parei diante de um grande painel com objetos de épocas variadas. Meu olhar se deteve em uma sequência de vasilhas em ordem cronológica: a primeira era de cerâmica; a segunda, de vidro; a terceira, de inox e a última, de plástico. Observei como a produção artesanal fora sendo cada vez mais substituída pela produção em série, mecanizada e, por fim, facilmente descartável. Ao observar aquela vasilha de plástico ao final da sequência, não pude deixar de sentir tristeza: parecia-me que algo essencial para a alma humana fora perdido com o “progresso”.
Timo Maran analisa que, nesse mundo acelerado, acabamos nos esquecendo de como tudo está interconectado, sendo preciso parar, pelo menos por um momento, para que o que realmente possui valor e significado não escorra por entre nossos dedos. Ele aponta que a maneira mais simples de criar uma conexão é fazer algo manualmente: “Faça amizade com um carpinteiro que possa lhe ensinar como moldar a madeira. Estude com um oleiro que entenda o mistério da argila. Torne-se um aprendiz de tecelão para tecer novamente significado em sua vida. Peça a sua avó para lhe convidar à cozinha dela. Arrume uma vizinha para lhe mostrar como seu jardim cresce”.
Em uma época em que há tanto disponível nas prateleiras, pode parecer desnecessário criar algo com as mãos. Esse labor, no entanto, vai ao encontro de uma necessidade mais profunda: a reconexão com processos que se ligam à essência da própria vida. Mais do que o resultado material das atividades, o que importa é a transformação vivenciada no interior do próprio ser humano.
“Bildad entrou; Dankali, porém, continuou caminhando. Ele queria ir a sua carpintaria, a fim de terminar um baú. Os trabalhos com madeira constituíam uma alegria especial para ele; por essa razão cada peça, acabada por ele, era uma obra-prima. Embora levasse muito a sério seu encargo de sacerdote e de mestre, restava-lhe ainda tempo suficiente para trabalhar em sua carpintaria. Além disso, necessitava de trabalhos físicos como equilíbrio para sua missão espiritual.”