"A princípio, rumaram na direção do pôr do sol e, após poucos dias, mudou o aspecto da paisagem. A planície ondulada da terra natal desapareceu. Cada vez mais alto, amontoavam-se os rochedos em montanhas e cordilheiras. Até mesmo outras árvores ali cresciam: coníferas haviam substituído as palmeiras de largas folhas.
Com os olhos bem abertos, Li-Erl olhava ao redor de si, formulando mil perguntas ao mestre. Depois, de repente, ele ficou silencioso. Lie-Tse, temendo que o esforço da caminhada tivesse sido excessivo ao moço, olhava preocupado para seu discípulo.
Mas logo a preocupação cedia: uma pessoa exausta não teria essa aparência! Seus olhos brilhavam, um sorriso esboçava-se em seus lábios e, no entanto, via-se que a mente de Li-Erl ocupava-se com algo que, de momento, escapava ao conhecimento do mestre. E este nada perguntava.
À noite, ao descansarem sob o céu estrelado, o moço começou:
— Também consegues ver os bons espíritos, meu pai, que povoam montanhas e precipícios? Notas os entes que habitam as árvores? São bem diversos dos de nossa terra.
— Não, Li-Erl, não os consigo ver, admitiu Lie-Tse, mas estou ciente deles. São servos do grande Deus que a nós e a tudo criou. Serão teus auxiliares quando puderes dar cumprimento a tua missão."
Lao-Tse, Coleção O Mundo do Graal