“ ‘Seguro está somente o ser humano vigilante! ’ disse Sargon com ênfase. ‘Unicamente com vigilância, os perigos podem ser afastados a tempo. Quem pensa ser tão bem protegido, que não precise, ele mesmo, prestar atenção, é um tolo!’ ”
Roselis von Sass, A Grande Pirâmide Revela seu Segredo
Dia desses, eu caminhava pela praia quando vi plaquinhas vermelhas indicando perigo no mar. Fiquei intrigada ao imaginar qual seria a metodologia usada para adivinhar o perigo. Entrar pelo mar e fazer uma varredura de marés seria complicado. Caminhar pelas profundezas em busca de buracos e depressões na areia seria ameaçador. Poderiam drones e computadores ser úteis nessa situação?
No auge das elucubrações vi um guarda-vidas instalando uma nova placa e notei que aquela era a minha chance.
— Está vendo o jeito das ondas? — ele perguntou. — Quando elas vêm desde longe regulares e espumando, está tudo bem. Quando elas vêm mais altas, sem arrebentar, e só quebram aqui perto é porque a correnteza está brava.
O guarda-vidas apontava para uma típica onda rebelde, tentando me ensinar a ler o perigo. Outros mares viriam e nem sempre as placas estariam de prontidão.
Somos dotados de uma porção de sentidos para ler cada circunstância e compreender o que se passa ao redor, para nos proteger. E, muitas vezes, a vida parece mesmo se ocupar em colocar umas placas vermelhas indicadoras pelo caminho. Mas nem sempre estamos aptos para reconhecê-las.
Isso lembra o livro ilustrado O anjo da guarda do vovô, de Jutta Bauer. Lá, o vovô conta para o neto histórias vividas. Enquanto o texto escrito narra as façanhas do avô desde cedo e mostra como ele era arrojado na infância, trepava em árvores altas e mergulhava nos lagos mais profundos, a ilustração revela o outro lado da história. Sempre, nas diferentes situações, existia um anjo da guarda por perto, cuidando de seu protegido, e evitando, com tremendo esforço, grandes catástrofes. Quando o menino mergulhava no lago profundo, o anjo da guarda puxava-o para cima e, quando trepava na árvore alta, o anjo da guarda se ocupava em amaciar a queda.
A experiência na praia me fez pensar que não precisamos mergulhar em todo tipo de perigo para comprovar sua existência, mas precisamos aprender a ler as ondas. Ler as ondas, ler a vida e… torcer para as plaquinhas vermelhas, os guarda-vidas e os anjos da guarda não se cansarem da nossa falta de aptidão.