“Biltis parecia ter esquecido Haran. Ela sentara novamente calada em sua almofada e olhava cismando à sua frente. Bildad tirara de uma prateleira uma estátua artisticamente entalhada em madeira e decorada com pedras preciosas, colocando-a diante de si, na mesa.
— Imaginai agora que esta estátua enfeitada com pedras preciosas fosse um espírito humano. O que iríeis dizer, se eu vestisse esse espírito com uma camisa, envolvendo-o completamente? Bildad olhou sorrindo para os alunos, aguardando.
— Espírito com camisa, disse Itaí, algo timidamente. Bildad esperou até que a geral explosão de alegria, provocada pelas palavras de Itaí, cessasse, depois falou:
— Espírito com alma! O que diríeis se eu colocasse um manto grosso e consistente sobre tal camisa?
— Espírito com corpo, disse Haran algo duvidoso.
— Espírito com alma e corpo, disse Biltis com firmeza. Haran acenou afirmativamente. Ele havia esquecido a camisa, a alma. Bildad elogiou Haran e Biltis, buscando a seguir três copos de ouro da sala contígua. Colocou primeiramente os copos lado a lado na mesa, de modo que todos pudessem vê- los; a seguir, colocou-os um dentro do outro.
— Agora podeis ver apenas um copo. Aliás, o mais externo. Suponhamos que esse copo fosse o corpo terreno. Se esse corpo terreno morrer, então aparece o copo do meio, a alma. E se eu tirar agora também o copo do meio – pois a alma morre igualmente, quando o tempo para isso tiver chegado – então o espírito está livre novamente. Sem os invólucros constituídos pela alma e o corpo terreno, ele não tem mais nenhuma ligação com os mundos perecíveis da matéria.
Bildad recolocou os copos um dentro do outro e disse finalizando:
— Cada um de nós é uma pequena trindade! Se cada parte dessa trindade cumprir seu dever em sentido correto, então sombra nenhuma turvará nossa harmonia com o céu! Depois dessas palavras, virou-se novamente para o papiro, pedindo a Halide que o lesse.”