Com o objetivo de simular um ambiente sem vibrações sonoras ou eletromagnéticas, as câmaras anecoicas, ou sem eco, são espaços de silêncio absoluto. Construídas de maneira especial e revestidas com espuma de alta absorção, inclusive no piso, elas servem para diversos propósitos, como testes científicos e estudos de engenharia acústica.
Ao adentrar uma destas câmaras na década de 1950, o compositor norte-americano John Cage disse ter escutado dois sons lá dentro: um agudo e outro grave. O som agudo vinha do seu próprio sistema nervoso e o grave do seu sangue circulando.
A experiência do músico mostrou que nossos corpos são dotados de música.
Para além dos sons do corpo, somos emissores de diversos tipos de vibrações, e não um receptáculo vazio esperando apenas para ser preenchido.
Pela corrente sanguínea circulam oxigênio e nutrientes em direção às células.
O circular saudável conta com constante renovação e pulsar numa trajetória livre e fluida. Nossos corpos funcionam em permanente circulação e participamos ativamente de outros circulares que vibram no mundo. Ao respirar, por exemplo, entramos em comunhão com a natureza, usufruindo da purificação que as plantas promovem no ar e devolvendo o gás carbônico, que é alimento para elas.
Ação e consequência, dar e receber fazem parte dos muitos processos naturais de movimento, nos quais estamos inseridos e dos quais participamos.
Conforme nos sintonizamos com os ciclos saudáveis, passamos a usar nossas capacidades de forma benéfica dentro de um circular maior.
Embora a circulação do sangue e a respiração sejam processos autônomos no corpo, muitos outros circulares dependem da nossa vontade para acontecer. Ao investir energia numa direção ou em outra, fortalecemos determinados fluxos em detrimento de outros. Temos sempre ativos o querer e a escolha.
Quando o querer vibra apenas materialmente, sendo uma expressão que busca exclusivamente atender às necessidades momentâneas, por vezes egoísticas, não contribuímos com o todo num circular potente, ao contrário, podemos até atrapalhar o ritmo de um corpo maior, que tudo abrange.
Mas, quando o querer nasce com o filtro da boa vontade, mobilizando integralmente o que somos e toda a nossa potencialidade, ampliamos nossa participação beneficiadora no mundo. Nosso interior pulsa junto com o ritmo da vida.
Apesar de sermos indivíduos com capacidade de fazer escolhas próprias, não estamos isolados. Em trocas constantes, somos nutridos pelo ambiente e influenciamos também o que está ao redor por meio da nossa vontade. Nossas escolhas e querer têm impacto num âmbito maior. Por meio do pensar, falar e agir direcionamos uma força que constrói e forma novos mundos.
De acordo com as diversas direções que elegemos, vamos somando desejos, ideias e aspirações de uma determinada espécie e fortalecemos todo um grupo similar. Tecemos conexões e recebemos também em retorno um fluxo da mesma espécie. Perceber a própria capacidade de formar a realidade e a conexão com o todo gera sensação de pertencimento e sentido para as ações cotidianas, ajuda a vislumbrar o grandioso que existe no pequeno.
Conforme buscamos uma conexão com o vibrar das leis naturais em que estamos inseridos, temos melhores condições de usufruir da força que tudo atravessa, como escreveAbdruschin emNa Luz da Verdade: “Só quando o ser humano adapta o seu querer às características das forças, isto é, segue a mesma direção, consegue ele utilizar-se do poder dessas forças”.
Quando o nosso querer e as nossas vontades se sintonizam com o querer do Universo, há harmonia no circular. É como se participássemos da circulação de um grande corpo em constante fluidez e equilíbrio, contribuindo de forma beneficiadora para um movimento maior. Os sons e as vibrações de fora penetram o lado de dentro. Em retribuição, contribuímos com a nossa parte da melodia.