Muitas vezes somos tomados por um perfume que bate na porta de nossos sentidos. Faz um tempo, quando a primavera se anunciava, eu sentia um perfume ao amanhecer e ao anoitecer e não sabia de onde vinha. Durante os dias de busca, meu nariz decidia meus passos. Aquele era um cheiro que sabia contar histórias. Era como se ele me levasse para passear por uma alameda bonita, como se despertasse o que existia de bom dentro de mim, fazendo uma conexão com o que existia de bom fora de mim. E eu queria mais daquilo.
Descobri que o perfume vinha de uma planta da casa vizinha, e não se tratava de uma planta especialmente vistosa. Mas... por que precisaria ser vistosa? O seu cheiro diminuía a questão, nublava os olhos de beleza. Não sei seu nome até hoje, mas sei que, naqueles dias, a primavera batia na porta da minha casa.
Mas, por que estou falando da primavera se ela promete chegar só em setembro? Acontece que a Páscoa se anuncia e, entre ovos e coelhos, pensar na Páscoa despertou memórias da primavera.
No hemisfério norte, o início da primavera coincide com a Páscoa. Na língua alemã, a palavra Páscoa é Ostern, e em inglês é Easter, ambas palavras derivadas do nome Óstara. E Óstara é conhecida como a deusa da primavera, que uma vez por ano dá a volta pela Terra, transmitindo sua força para a germinação das sementes.
No hemisfério sul não haveria mesmo por que exatamente fazer essa associação entre Páscoa e primavera, a não ser que repensássemos o calendário.
Sendo o resultado de costumes e crenças diversas, a comemoração da Páscoa pode trazer lembranças diferentes a cada um.
Maria Madalena foi avisada a este respeito:
A seriedade do acontecimento e de tudo o que envolveu aquele momento vai além das nossas possibilidades de refletir. Talvez possam reverberar melhor na nossa maneira de sentir.
Na verdade, vale dizer que lembranças sobre a beleza da primavera, assim como reflexões sobre os diversos aspectos que envolveram a missão de Jesus não têm dia marcado no calendário. A primavera interior de cada um não tem estação certa para acontecer.
Texto publicado na edição 45 do periódico O Vaga-Lume