"Cheio de dignidade o sacerdote retirou-se. Na alma de Li-Fu-Tai, porém, surgira algo novo. Poderia presumir ser esta criança a escolhida para trazer a luz? Tudo assim indicava! Certamente era assim!
Possivelmente era o recém-nascido o ancestral reencarnado! A criança deveria então chamar-se Pe-Yang! E agora fora abençoada pelo sacerdote com o nome de Li-Erl. Parecera-lhes belo e adequado. Enfim, a criança teria de usá-lo agora, até que mais tarde seus atos justificassem uma mudança de nome.
Com infinita cautela, Li-Fu-Tai aproximou-se do leito da mulher, que felicíssima contemplava o pequeno Li-Erl. Era ele verdadeiramente uma criança encantadora. A mão suave de Wu-Li afastara os amuletos e as ervas com as quais as vizinhas haviam literalmente coberto o recém-nascido, a protegê-lo dos demônios e dos feitiços.
— Tu estás protegido, meu pequeno guerreiro do Sublime, murmuraram seus lábios e a ela pareceu que a criança sorria.
Os anos seguintes decorreram sem quaisquer ocorrências notáveis. A genuína religiosidade existente no caráter da mãe soube manter a paz e a harmonia na cabana, e com isso também alegria e bem-aventurança, se bem que isso às vezes não era fácil.
Li-Fu-Tai vivia na continuada esperança de ver irromper o ancestral em seu filho. Ao menos devia o garoto ser completamente diferente das demais crianças. Li-Erl desenvolvia-se igual a outras crianças sadias. Observava-o constantemente e com isso decepcionou-se, não poucas vezes. No tempo devido o menino aprendeu a falar e a caminhar; infantilmente caiu na água e quis pegar o fogo.
Fizesse ele alguma travessura, recebia as mais ásperas repreensões do pai pela criancice. A mãe, no entanto, sem muito alarde, contornava os castigos severos em demasia e atenuava as censuras. Ela sentia que os atos do pequeno, tão irritantes ao pai, provinham todos da mesma fonte: uma enorme sede de saber. A intuição da mãe observava-o em tudo quanto a criança empreendia. O menino era de poucas perguntas, preferia aprender na própria vivência.
Apesar das discordâncias ocasionais, a cabana parecia ser o ponto de encontro de todos os bons espíritos, com uma aura de paz sobrenatural a perpassá-la.
Isto despertava a atenção dos ocasionais visitantes que de vez em quando apareciam, seja para negociar com o pai, seja para pôr em atividade as jeitosas mãos da mãe. Acontecia, às vezes, de chegarem a perguntar sobre a atmosfera amena que pairava no ambiente. Alguns julgavam encontrar a origem nas irradiações do estranho altar da morada de Li-Fu-Tai.
De manhã e à tardinha, Wu-Li conduzia o filho até o altar, acostumando-o a executar ali suas preces infantis. Ela experimentava contar-lhe do Sublime. Aprendera ainda orações especiais do sacerdote e fazia a criança repeti-las, mas sempre o coração lhe indicava algo a acrescentar, seja um pedido ou um agradecimento.
Em pouco tempo Li-Erl aprendeu e tratou de imitar a mãe. Afigurava-se natural ao menino expressar todos os seus desejos ante o altar e levar para ali também suas alegrias."
Lao Tse, Coleção o Mundo do Graal
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