Para onde sua atenção tem sido direcionada, o que você tem cultivado, onde mora o seu acalento?
Uma amiga disse que, certa vez, quando foi à praia, ela fez questão de registrar cada detalhe com atenção. Estavam em grupo numa semana de imersão de um curso e aqueles dias foram muito especiais. Disse que usou tempo e presença para mapear cada detalhe do lugar e absorver o máximo: o tom magenta do broto, o jeito das raízes se entrelaçarem, os cheiros do mar. Aí ela guardou esse mapa sensorial num arquivo interno, onde coleta afetos.
Somos feitos de arquivos internos: alguns ficam mais cheios que outros. Depende sempre de onde depositamos nossa atenção. É fácil deixar alguns arquivos entulhados e outros desabastecidos.
Em tempos de imagens duras e cruas, de tormentas externas e também de tantas que sentimos nos arrebatar internamente, é importante pensar no acalento. Não como fuga da realidade ou esquecimento da compaixão, mas como espaço seguro que pode ser acessado para nutrição, reequilíbrio e fortalecimento da confiança.
“Há momentos em que precisamos nos fixar em imagens de vida, de cultivo, de
cuidado, de transbordamento”, escreve a educadora Maristela Barenco.
“Ver as plantas reagindo aos pequenos raios de sol me dá esperança”, diz o artista Denilson Baniwa.
Muitas vezes, nossa coletânea de afetos tem nome próprio e está fortemente
relacionada a pessoas que amamos e é claro que isso pode também ser nutrição. Mas rechear a coletânea com elementos variados e miudezas acessíveis pode ser importante.
De repente, em determinado momento, uma pessoa importante não está acessível, mas o cheiro do alecrim ou o jeito das raízes buscarem o chão continuam trazendo a inspiração ou o alento que o momento pede.
“Agradecido, aspirei o odor aromático das coníferas e da hortelã das montanhas. Ao mesmo tempo senti uma estreita ligação com a terra, o sol, as plantas, tornando-me consciente de que eu nada amava mais do que a natureza e suas criaturas, visíveis e invisíveis.”
Roselis von Sass, Sabá o País das Mil Fragrâncias