“Suas obras o seguem, sejam boas ou más!”
Roselis von Sass
Já recebeu a indicação de um curso que se encaixava exatamente na sua busca? Sonhou com o lugar onde estaria uma chave perdida? Mudou de caminho sem motivo aparente e isso alterou todo o dia? Há quem diga que nenhum ser humano é entregue a seu destino arbitrariamente. Tudo é uma questão de fios.
No livro A Moça Tecelã, Marina Colasanti conta sobre o tecer da própria vida: “Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias. Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.”
Lançamos fios todo o tempo. E os fios seguem seu rumo, fazem novelo, dão voltas, juntam-se a fios afins, e chegam, com cores renovadas, em tecido bem trançado. Assim, o fio lançado pode trazer uma dica importante, uma chave para abrir portas, um caminho mais tranquilo ou também trajetos sinuosos, chaves quebradas dentro da fechadura e cursos perdidos. Tudo de acordo com o fio lançado.
No livro Fios do Destino Determinam a Vida Humana, Roselis von Sass traz relatos sobre lugares para onde os fios nos levam. No contoUma vivência inesquecívelfala sobre a última excursão que fez com o pai, em Minas Gerais, numa época em que o interior era vasto e cavalos e mulas eram o meio de transporte.
A excursão tornou-se desafiadora em certo momento porque a água que descia da montanha sobre as pedras tornava a rota escorregadia. Mudaram de caminho e pararam para descansar. Mas os fios lançados por um homem em apuros mudou a retomada do cavalgar. Seguindo uma pessoa que viam correr rapidamente por trilhas verdes estreitas, chegaram à casa onde um homem havia sido picado por uma cobra venenosa.
“O lugar da picada era acima do tornozelo; a perna toda estava, contudo, tão inchada, até o tronco, que constituía apenas uma massa disforme.
— Esperemos que o soro que lhe injetei nos quadris resolva, disse meu pai preocupado. (…)
Ao sair novamente da cabana, meu pai disse que o moço se salvaria, pois o inchaço havia diminuído visivelmente. Além disso, já estava saindo um líquido seroso do lugar da picada. O moço estava novamente consciente.
Ele havia acabado de lavar os pés num tanque lodoso, atrás do milharal, quando sentiu na perna uma espécie de agulhada. Ao sair da água, já sabia que havia sido picado por uma cobra. Em sua grande aflição, havia implorado a Deus com toda a alma. Aí a dor foi logo tão forte, que nada mais soube do que acontecera em seu redor.”
Há quem diga que nenhum ser humano é entregue a seu destino arbitrariamente. Tudo é uma questão de fios. Seguimos, sem descanso, jogando a lançadeira de um lado para outro.