Adormecida ou não, ela existe. Pode estar oculta no eu interior e não ser muito utilizada, mas está relacionada a inúmeras situações da vida. Estamos falando da intuição.
“Todos nós temos reservatórios de vida para acionar, com os quais sequer sonhamos”, dizia o filósofo William James. Talvez a intuição seja um destes, aguardando por ser acionado.
Mas qual o lugar que ela ocupa na vida cotidiana? Segundo a psicóloga americana Sharon Franquemont, dedicada ao assunto por quase 30 anos, “num determinado momento, passamos a priorizar o uso do intelecto – e fizemos isso de maneira avassaladora. Na minha opinião, o próximo passo da evolução humana é voltar a dar mais importância à intuição.”
Tudo indica que nós mesmos a tenhamos colocado em segundo plano, mesmo que inconscientemente. Por trás de uma certa ânsia de querer-saber-melhor, de uma supervalorização da lógica e da razão, houve uma subvalorização do eu mais profundo, aquele que nem sempre sabe dar todas as justificativas, mas muitas vezes tem a resposta certa.
Alguns indícios da chamada voz interior ou intuição podem ser vistos naquelas escolhas acertadas feitas sem explicação lógica, nas certezas sem comprovação, em impressões iniciais muito fortes sobre algo ou alguém, e até em soluções repentinas e criativas.
A psicóloga Sharon diz ainda: “a intuição leva-nos além do nosso pequenino ser para nosso ser maior, para nossa alma”. Resgatar a capacidade de reconhecer as verdades do coração e não só as do raciocínio lógico, ouvir o íntimo e permitir-se acreditar em algumas certezas podem ser uma forma de aproximação da intuição.
As informações, descobertas e pesquisas não param de bater à porta da mente. Mas o excesso contínuo de tantas informações nem sempre traz alguma sabedoria, paz ou crescimento interior. Se por um lado as coisas mudam muito depressa, por outro lado a mente humana tem a tendência de colocar de lado as informações que não parecem ter pleno valor.
A própria ciência está sempre em ebulição e renovação. Muito do que antes era, hoje já nada é. O que o olho e o microscópio não enxergavam há pouco, hoje aparelhos mais potentes já enxergam. E amanhã? Muitas coisas hoje tratadas como folclore talvez venham a ser futuras grandes descobertas...
Sendo assim, parece irracional crer apenas naquilo que a mente calcula, desconsiderando aquilo que o coração algumas vezes tão veementemente diz ser o certo ou verdadeiro.
A intuição é o elo que une o mundo mais interior ao exterior e que leva a um caminho que segue além daqueles indicados pelo raciocínio. No livro Na Luz da Verdade, Abdruschin explica: “...nada é mais forte do que a intuição, que é a força mais elevada do ser humano, não podendo jamais ser subjugada ou apenas prejudicada por outrem.”
A intuição existe dentro de cada um. Depende de uma vontade individual tentar limpar o caminho até ela para que sua voz volte a ser ouvida.
Texto revisado, publicado no periódico Literatura do Graal, número 6.