Sibélia Zanon
Certo dia, ele foi ao supermercado para trocar um produto e estava com pressa. O funcionário disse que não poderia trocar a mercadoria. O gerente confirmou. Ele reclamou seus direitos de consumidor e ameaçou fazer uma reclamação na central. Demorou, mas conseguiu fazer a troca. Estava tudo certo. Mas ele saiu de lá incomodado. Não com o gerente, mas consigo mesmo. Percebeu que havia abusado no tom. Na semana seguinte, foi ao mesmo supermercado. Procurou o gerente. Pediu desculpas. A moça do caixa ficou boquiaberta. O gerente o abraçou.
Colocar-se no lugar do outro é a porta de entrada para a empatia e o remédio certo para equilibrar percepções e ações.
O escritor israelense Amós Oz escreve: “Eu me pergunto: ‘E se eu fosse ele? E se eu fosse ela? O que sentiria, desejaria, temeria e esperaria? Do que teria vergonha, esperando que ninguém mais soubesse?’ Meu trabalho consiste em me pôr no lugar de outras pessoas. Ou mesmo estar em suas peles. A força que me impele é a curiosidade. Eu fui uma criança curiosa. Quase toda criança é curiosa. Mas pouca gente continua a ser curiosa em sua idade adulta e em sua velhice”.
Quais são as dores e as delícias de estar na pele que habitamos? E quais seriam as dores de habitar outras peles?
A pergunta, que pode ser feita muitas vezes ao longo de um único dia, amplia a própria visão de mundo e enriquece a nossa capacidade de vivenciar coisas novas, já que não teremos a oportunidade de viver todas as experiências, mas ao emprestar a dor ou a alegria do outro, podemos covivenciar um acontecimento singular.
Vivências que impactam o outro, mas reverberam sobre a própria pele podem nos fazer mais humanos, contribuindo para uma reavaliação de postura. Em vez de adotar uma postura demasiadamente crítica, defensiva e condenatória, pode-se escolher uma postura mais humilde, humana e auxiliadora. Assim como as crianças, talvez devêssemos cultivar a curiosidade.